quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Sobre as Ocupações:

Fim de ano. Encontro-me numa lastimável situação de cansaço. Vendo os demais colegas da classe dos professores sentirem o mesmo, assim como os alunos e os demais envolvidos nesse trabalho que é educar.
Em meio a esse cansaço já sempre ligado á essa época de fim de ano, surge uma esperança. Uma esperança que veio do seio de quem é cotidianamente oprimido pelo sistema: os alunos da rede pública de ensino.
Fui visitar a escola que trabalho, e que esta ocupada desde a semana passada. Vi alunos numa organização invejável a qualquer professor exemplar. Alunos que antes eram tidos como alunos “problemas” na verdade são os que mais abraçaram a causa de dar um novo ar à sua escola.
Repaginaram o espaço que finalmente percebem como parte deles mesmos.  Um espaço que não esta apartado da comunidade, mas que recebe diariamente doações e visitas da comunidade.
Eu, sinceramente nunca tinha visto isso acontecer em parte alguma desse planeta. Uma escola que efetivamente é feita pelos e para os alunos.
Depois de ver essa situação sinto novos ares entrarem pelas portas e grades das janelas da escola. A escola que recebe a população em sua grande maioria de negros, da periferia da cidade. Essa mesma escola nos ensina como deve ser uma escola ideal.
Lá eles mesmos estão organizando oficinas, e dizem que nunca em todos os anos que lá estão aprenderam tanto como nessa última semana! Pois estão aprendendo conhecimentos de verdade, e não aquela balela ensinada e ditada obrigatoriamente goela abaixo pela classe dominante para que eles se tornem mão de obra barata.
Os conhecimentos de verdade vão desde aulas de música, capoeira, dança, desenho, sessões de cinema, palestras e até culinária. E sempre se organizam para fazer a comida dos que estão lá trabalhando, e também para manter a limpeza do local que é deles.
Os alunos descobrem o espaço que é deles, e também descobrem que há tantas coisas guardadas que nunca puderam usufruir. Descobrem que ali tem muitos problemas no prédio que nunca foram sanados pelo governo.
Mas acho que o mais interessante de tudo isso é demonstrar qual é a educação que eles querem, ou melhor, que toda sociedade quer. Muitas vezes dizemos que sonhamos com a autonomia de nossos alunos, e quando eles finalmente alcançam esse status, simplesmente nos afastamos por medo ou porque não sabemos lidar muito bem com tamanha autonomia.
Nossos jovens venceram a decisão de um governador autoritário. Fizeram ele rever as suas imposições. Coisa que meses de uma sofrida greve nem sequer vislumbrou.
Independente de qualquer decisão que esses alunos tomem daqui pra frente, até porque o natal se aproxima e muitos vão querer voltar para suas casas. Acho que o mais importante já aconteceu e esta apenas começando a brotar... Essa semente da esperança por uma educação efetivamente democrática, na qual a escola publica seja tão boa e produtiva quanto uma particular, que ela não seja reprodutora da desigualdade social.

A esperança de que um dia possamos deixar os portões das escolas abertos para quem quiser ir e vir, e possam os alunos sentir-se livres para circular e fazer acontecer o que quiserem naquele espaço, porque eles são autônomos, porque eles são inteligentes e sabem muito bem o que querem.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Ocupações das Escolas Públicas



Pela primeira vez na história da educação desse país, a população finalmente despertou para o poder que tem em mãos. O poder de fazer uso Real da democracia.
É fato: sabemos que vivemos sobre uma falsa democracia. Nunca haverá igualdade num país que educa de maneira desigual.
Sou professora de escola pública e particular há 8anos. Sei muito bem dessa desigualdade que nos assombra. E continuamos, sem exigir uma educação pública de qualidade para todos, porque assim sempre foi, assim sempre será, como um axioma irrevogável de um Rei inquestionável.
E sim, pela primeiríssima vez, assistimos algo diferenciado. Um movimento a favor da educação democrática. No sentido de que os alunos se apropriaram do que de fato é deles, o espaço público.
Sempre fizemos greves de professores e nunca obtivemos nada desse governo. E na sua burrice absoluta, e abuso de poder sem tamanho, o governador que se acha esse rei inquestionável, decretou uma medida absurda, sem nem ao menos consultar a população que seria atingida diretamente.
Não houve burrice tamanha. Provavelmente o nosso governador deveria ter pensado: vão agir como agem os professores... Estão todos tão anestesiados pelo sistema enrijecido que criei por longos anos, que sequer sentirão, ou ao menos questionarão essa medida que pretendo implementar...
Mas quanta burrice a sua seu governador!!! Seu tiro saiu pela culatra!
A população; pais alunos e comunidade estão unidos para lhe dizer “NÃO” seu governador. E agora?? O que tem em mente?
Percebi que esta com um plano arquitetado. E como sempre, sabe muito bem como dar o seu “jeitinho” malandro de sem infiltrar nas fraquezas do povo. Entrar como quem não quer nada nas escolas que até agora não tomaram força... Mandou policiais invadirem as escolas, policiais agredirem alunos menores de idade seu governador!!! Isso é a sua maior Covardia seu governador!!! Porque ao invés de todo esse desgaste de sua energia em concretizar o que você quer, você simplesmente não ouve a voz dos seus súditos ó Rei???
A escola que trabalho esta ocupada. Mesmo aqui no litoral norte de São Paulo, onde tememos estar tão distante das informações, do que esta acontecendo lá na metópoles... aqui mesmo, aconteceu também!!!
Eu ontem fui à escola para dar aula. Quando cheguei na porta da escola e me deparei com os portões fechados, fiquei pasma! Quando vi os alunos que me convidaram a entrar fiquei atônita! Quando entrei na escola não pude acreditar, tamanha organização desses jovens! Eu nunca vi coisa igual na minha vida!!!
Todos fazendo decisões coletivamente, o espaço escolar limpo, todos cuidando do espaço, todos buscando atividades educativas, todos buscando agir democraticamente de verdade, seu governador. Coisa que o senhor nunca ousou fazer! Os nossos alunos fazem com maestria.
Vi aquele aluno que costumava ser o aluno “problema” da escola, agindo com muito desempenho, com muita autonomia, ajudando a todos, pensando no bem de todos. Isso eu NUNCA VI a sua escola fazer seu governador!!!
Quer dizer, a nossa escola esta muito aquém de ser o que poderia ser se fosse um espaço democrático de verdade!!!  E nossos alunos estão nos ensinando isso, seu governador, porque você não aprende? Porque quer a todo custo ser obedecido e não voltar atrás de nenhuma decisão ó rei?
Se o senhor conseguia muito bem tornar uma greve de professores um fato completamente irrelevante perante a mídia, perante a sociedade, agora o senhor vai ter de se calar seu governador, pois TODOS ESTÃO CONTRA VOCÊ!!! População, pais,alunos, professores... E agora seu governador?? Desce do teu trono!!!

Pela Autonomia das Escolas!!!
Pela emancipação da Educação Pública!!!

Pela Real Democracia!!!

segunda-feira, 30 de março de 2015

A GREVE DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA É DE TODOS OS CIDADÃOS!!!

Estamos em greve já há algumas semanas. É difícil estar em greve, pois isso demonstra a PRECARIEDADE da nossa situação como professores. Acredito que esse seja um problema de nível nacional. Muitas escolas com numero excessivo de alunos, professores sem qualificação, alunos com defasagens de todos os níveis... Mas é preciso que nesse momento paremos para refletir sobre o significado da PRECARIEDADE em si.
O que é ser precário afinal? A palavra sugere que algo esta em falta. Obviamente nos falta muita coisa, mas acredito que em primeiro lugar merecemos um salário digno para alguém que cursou uma graduação. E principalmente um salário digno para quem esta intimamente relacionado com a CONSTRUÇÃO de uma sociedade.
A precariedade é tão grande que extrapola a nossa ação cotidiana... Estamos falando de questões macropoliticas, jogos de interesses, partidarismos e sindicalismos. Muitas pessoas temem a greve por não terem como ficar sem os seus salários, mesmo temporariamente. E muitos descreem da Greve, pois já participaram de outras e nada obtiveram como resultado.
Pois bem... Não existe momento mais oportuno para uma Greve como agora. O país esta vivenciando momentos únicos. Muitas pessoas revindicando nas ruas, e que por mais hipócritas que possam parecer, estão reclamando por melhores condições de vida.
Pois nesse ponto nós temos que entender de uma vez por todas que a educação deve sempre estar em primeiro plano em absolutamente todas as revindicações, pois se tivermos uma educação de qualidade muitas outras coisas seriam consequências dessa melhora.
Isso pode até não ser muito vantajoso para os nossos governantes, que obviamente preferem manter a ignorância do povo, formando mão de obra barata nas escolas públicas. Estava indo tudo muito bem conforme o previsto. Exceto pela inconformidade da população diante de tantos abusos dos governantes.
Estou aqui falando de uma realidade que vivencio cotidianamente. E são tantas as precariedades que vivenciamos que chega até mesmo a ser difícil coloca-las todas aqui nesse texto. Muitas já conhecidas por boa parte da população. Tanto é que temos assistido uma grande parte da população a favor desse movimento dos professores.
Asseguro-lhes, essa GREVE NÃO É ÚNICA E EXCLUSIVA DOS PROFESSORES ESTADUAIS!!! ELA É DE TODO CIDADÃO QUE ESTA DESCONTENTE COM A POLITICA, seja em âmbito federal ou estadual. Ela deveria ser, portanto incitada por todos os indivíduos, pois se trata de um bem PÚBLICO E COLETIVO.
E porque afinal devemos investir nos professores das escolas públicas?  Primeiramente por questões legalistas, pois os professores tem uma defasagem salarial; não recebem aumento desde muito tempo. E depois, mais profundamente ainda esta a questão Humana da profissão.
O professor deveria ser aquele que educa e que dá oportunidades para TODOS OS CIDADÃOS poderem ser o que quiserem Ser. É através da educação que um jovem pode vislumbrar as suas conquistas, se engajar no mundo, ser autônomo. Toda essa conversa estamos cansados de ver em manuais pedagógicos.  E a sua necessidade é real. Mas parece que efetivamente na prática, isso não sai dos manuais. Pois na realidade, nada disso acontece.
Mas as pessoas tem real consciência da importância da educação para a formação da sociedade? Temo que não... Pois, apesar de apoiarem a manifestação dos professores, dificilmente alguém quer se engajar para juntamente lutar pela causa, pois isso é um problema dos professores e os outros não tem nada a ver com isso.
Analisemos melhor a situação... Se uma pessoa esta doente e precisa recorrer a um órgão publico da saúde, e percebe que esse órgão público é falho. Isso ocorre primeiramente por uma falha na educação. Quem levou o individuo a se formar de maneira medíocre foi o próprio sistema educacional do país. E indo mais a fundo da questão,  percebemos que se o individuo tem uma certa e razoável educação, certamente ele terá mais informações sobre prevenção das doenças por exemplo. E mais ainda, se ele precisar protestar contra um sistema que é falho, ele terá total autonomia para reivindicá-lo sendo seu próprio porta voz.
A educação pode atuar em todos os âmbitos da vida social. Desde a informação adequada, a formação cultural e a sua valorização, a atuação política dos indivíduos, e principalmente a sua competência para entrar no mercado de trabalho sem ser apenas mão de obra barata.
Ou seja, no fim das contas a educação realmente transforma as pessoas. Mas isso também não é novidade... A novidade é que estamos em um momento crucial para a política nacional, momento de intervenções e de abertura para mudanças efetivas na postura de cada cidadão. Então se faz necessário unirmos a nossa força, não apenas dos professores da rede pública, mas pais, alunos, sociedade como um todo.
Todos precisamos abraçar essa causa, pois é uma questão nacional. A educação PRECISA MUDAR URGENTEMENTE. E eu bem sei que se trata de um longo processo. Mas se cruzarmos os braços agora, nesse momento de abertura para esses questionamentos, então devemos estar cônscios de que nunca mais essas portas se abrirão tal como ela se nos apresenta.
Peço a todos os cidadão, pais, alunos, professores da rede pública e privada, que se unam em prol dessa melhoria na nossa educação. Salários dignos para os professores, para que eles possam ter tempo livre para preparar aulas, estudar, se aperfeiçoarem como profissionais, assim como diminuir a quantidade de alunos em sala de aula, pois com 40 alunos em cada turma é impossível lecionar qualquer coisa. Pelo fim desse sistema maquiado de dados estatísticos, alunos não são números!!! Alunos são pessoas únicas com imenso potencial criativo! Não deixemos esse mal nos corroer!

Que as nossas forças se unam para juntos fazermos história, pois a aula agora é na RUA!

domingo, 22 de março de 2015

Sobre a Assembléia dos Professores no Vão Livre do Masp dia 20/03



Ontem estivemos na assembléia dos professores em São Paulo. Preciso expor aqui algumas considerações sobre o que vimos, e o que senti nesses últimos dias de greve...
Na quinta-feira dia 19/03, nos encontramos aqui em Ubatuba no calçadão da cidade. Lá, pela primeira vez na minha carreira de 6 anos de Estado, nunca vi tantas pessoas daqui unidas por uma causa. Boa parte dos professores daqui está engajada nessa luta, também reconhecem que precisa haver mudanças urgentemente, e que agora é o melhor momento para paralisar tudo.
Ficamos bem unidos e fortes nesse dia, a ponto de caminharmos juntos, unidos, carregando bandeiras, cartazes e entoando gritos contra o Governador Geraldo Alckmin, etc.
No dia seguinte, dia 20/03, nos encontramos logo cedo para pegarmos uma vã rumo à capital paulista para formarmos o grande corpo da greve dos professores do Estado de São Paulo.
Chegando lá, vimos que o vão do Masp estava bem lotado. Surpreendentemente até mesmo embaixo de chuva o povo estava bem entusiasmado. Porém, algo me deixou um pouco aborrecida, pois quando a presidente de sindicato Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel) começava a falar, o público entoava um “fora Bebel”!!!  Isso me deixou inquieta, pois eu não estava ali para questionar o papel da presidente no sindicato. Acho que era exatamente dessa novela a que se referiu o governador Geraldo Alckmin...
Olhando de fora, talvez o governador pensasse: - nossa, eles nem sabem direito o que querem, talvez eu deva me retirar até eles terminarem esse assunto particular deles...
Tá, tudo bem...  Questionar o papel da presidente no sindicato pode até ser uma discussão relevante. Mas, sinto muito, no meu ponto de vista, isso não deve ser colocado AGORA em questão, pois desloca o ponto principal pelo qual conseguimos unir tantas pessoas, ou seja, o fato de revindicarmos por um aumento salarial e melhores condições de trabalho.
É esse o maior perigo para a nossa classe não conseguir o que tanto almeja. Ou seja, cair em sindicalismo nesse momento. Se quisermos unir cada vez mais os professores, não dá pra deixar isso acontecer!!!

Nós precisamos aprender que agora não é hora de picuinhas rasas... Temos algo de grandioso para alcançar, e só vamos conseguir se nos unirmos e se centrarmos todas as nossas forças para um único fim. Caso contrário essa luta pode afundar ou descentralizar, e até mesmo chegar a tirar a presidente do sindicato do poder, mas assim não conseguiremos a atenção do Governador, o nosso justo aumento salarial e nem melhorias na sala de aula.

quarta-feira, 18 de março de 2015

PELA ADESÃO À GREVE DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO!!!



Defendo a greve dos professores do Estado de São Paulo nesse exato momento, pois o país esta tomado por necessidades de mudança. Mas acredito que a mudança de um Presidente pouco pode nos afetar enquanto professores. Pois o que realmente modifica a estrutura educacional de um Estado é o seu governo estadual.
Acredito que talvez aquelas pessoas que pediam o impeachment da Presidente, alegando que falta educação em nosso país,  sequer sabem que não é do poder da Presidente decidir sobre a educação de cada Estado.
E lhes digo: a educação do Estado de São Paulo esta sucateada! Esta simplesmente desmoronando.  Vai de mal a pior. E isso não é culpa da Presidente, e sim do nosso Governador Geraldo Alckmin. E olha que o Estado de São Paulo tem em sua grande maioria eleitores que votam a favor do PSDB e agora reclamam por uma educação de qualidade à pessoa errada.
Se o caso é pedir por um impeachment, que isso valha também para o  governador Alckmin, que assim como muitos outros que o antecederam também do PSDB, simplesmente acabaram com a educação no nosso Estado.
Pra ser mais específica sobre essa decadência, quero antes lhes dizer uma consideração: o fato é que tudo isso que estamos assistindo em noticiários, essas pessoas saindo às ruas pedindo o retorno da ditadura no país, ou então os que pregam pelo moralismo religioso e nem sonham o que significa um Estado Laico, ou os que desconhecem por absoluto a obra incrível de Paulo Freire e hasteiam bandeiras sem sentido.  TUDO ISSO É REFLEXO DE UMA EDUCAÇÃO DETURPADA!
CHEGAMOS AO CUME DA IGNORÂNCIA NO PAÍS! E isso até pode ser uma questão que envolve o âmbito federal.  Mas se pensarmos em quem de fato esta gerindo as finanças e as políticas direcionadas à educação, estamos falando do Governo Estadual.
Eu, como professora da rede pública já antevia que isso aconteceria em algum momento. E como estamos em plena era digital, as coisas acontecem tão mais rápidas do que previmos... Eis que assistimos de camarote a ignorância tomando as ruas. A ignorância, que antes era apenas um meio de controlar a massa, agora mostra os seus dentes.
Vejo constantemente alunos saindo do 3º ano do Ensino Médio sem saberem ler nem escrever. Não sabem coisas muito simples que deveriam ser-lhes ensinadas desde muito cedo. Saem da escola, e vão trabalhar como mão de obra barata. Empacotadores de supermercado, atendentes de lojas, restaurantes. E olha que já vi alunos que até mesmo como atendente não  sabem fazer o seu serviço direito!
E é óbvio que isso não é culpa deles. Pobres inocentes, que não tem outra alternativa a não ser estudar em escolas públicas. E o pior: são obrigados, posteriormente, a votar.
Existe na escola pública da rede estadual uma apostila medonha enviada e paga (e deve ser bem paga), pelo governo. A ideia da apostila em si não é de todo ruim. Mas a sua qualidade é péssima. Deixa a desejar. Pois muitos alunos não conseguem acompanhar o conteúdo que ali é pedido. Sem contar que muitos alunos tem um desdém à esse material; jogam-no no chão constantemente ou não o levam pra sala de aula,quando não jogam as apostilas na privada!
 O professor também fica perdido, porque ao mesmo tempo tem que dar conta daqueles conteúdos da apostila; daí um “se vira nos trinta”, e provavelmente ele é obrigado a maquiar situações, já que deve dar nota obrigatoriamente a todos os alunos, mesmo que muitos mereçam de fato ganhar um 0  de nota. Pois como dar nota à um aluno que não saber ler nem escrever no 3º colegial?
Então toda a situação é maquiada. Desde o investimento alto em material didático, as apostilas, os livros, cadernos, mochilas, etc. Não falta nada para o aluno. E em cima desse investimento o governo faz a sua publicidade e todos acreditam severamente que é um bom governo, pois dá livros, cadernos e apostilas para os alunos...
Doce ilusão...  Os alunos saem das escolas sabendo menos do que quando entraram! Isso é fato real! 
E os professores então? Os professores são pobres coitados, açoitados pelo sistema! Primeiro porque não conseguem ter tempo para estudar, preparar suas aulas, pois precisam trabalhar a todo vapor para conseguir sustentar minimamente a sua vida.  Então, obviamente, não são os portadores do conhecimento. Muito pelo contrário, são burros de carga, que sustentam horas de trabalho pesado tendo de suportar salas de aula com 40 alunos, o que é pior do que trabalho braçal.
Sendo que muito professores, graças ao ciclo vicioso da educação, formam-se em faculdades a distância, pagam pelos seus diplomas, fazem faculdades meia boca. Ai sim temos um problema que pode ser do âmbito Federal. Que estimula a educação de má qualidade sem precisar de muitos pré-requisitos para entrar e sair de uma faculdade.
Existe aí um estimulo de apressar o acesso à educação à qualquer custo para uma grande parcela da população que até pouco tempo atrás era em sua maioria de analfabetos. Porém essa pressão de querer resolver logo esse problema acaba desembocando em ignorância e mais ignorância.
Quer dizer, não é dar educação à todos e fazer com que todos façam parte numérica das estatísticas do governo. Mas sim dar educação de qualidade à quem de fato quer aprender. E estamos muito longe de termos uma população que tenha o gosto pelo estudo.
Também pudera, até mesmo eu teria asco de uma escola que mais se parece com uma prisão do que com um ambiente estimulante para aprender. Ser obrigado a decorar uma porção de conteúdos que talvez sejam inúteis para a vida daquele cidadão. 
O governo estadual também elaborou uma política de bonificação dos professores que tem um bom desempenho nas escolas. Balela! Isso só serviu para nos sentirmos mais individualistas, e tendo cada vez menos a sensação de que fazemos parte de um coletivo. Ou seja, um grupo de professores que trabalham juntos, portanto, todos deveriam ser bonificados pelo trabalho.
Isso por si só já é absurdo. Separatista. Mas se atentarmos para as estatísticas que levam è essa bonificação do professor, então temos o que há de mais maldoso nesse governo. Falo aqui do sistema de avaliação dos alunos conhecido como o Saresp.
Trata-se de um índice de notas de cada escola, de acordo com o desempenho dos alunos. Aqueles que decoraram bem a apostila, até podem ir razoavelmente bem nessa prova. Mas quem, como eu, se opôs a ensinar um conteúdo de forma equivocada, esta fadado à não conseguir atingir a meta e os índices do Saresp. E consequentemente, não terei o meu bônus no começo do ano letivo.
Já vi ocorrer na mesma escola professores que recebem a bonificação e outros não. Isso é extremamente frustrante! Até mesmo para quem recebe... Isso não é nada estimulante... Trabalhar pensando no que vai receber ou não no ano que vem.
Por isso temos que lutar e entrar nessa greve! Para que possamos receber um salário digno. Já que estamos submetidos diariamente a situações de extremos. Ou seja, trabalhando para formar a ignorância que irá tomar as ruas do nosso país pedindo impeachment da Presidente sem nem ao menos saber quais são as funções de um Presidente!
Formando pessoas que votam da mesma forma com que lidam com os seus materiais didáticos pagos pelo governo, ou seja, jogando seu voto na privada!
Ao menos nos dêem salários dignos, para que possamos ter mais tempo de estudo, de planejamento, de aprimoramento. E darmos uma educação de qualidade para nós mesmos e consequentemente para o outro.

Pelo fim desse sistema educacional que nos aprisiona em um cárcere, e não nos estimula a aprender! 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sobre a Mídia e a Sala de Aula... (Uma aula sobre Cultura de Massa)

Acabo de sair de uma aula frustrante de um 2°ano do E.M. É aterrorizador saber que você não tem valor algum diante de tantos adolescentes. É de adoecer qualquer indivíduo, por melhor profissional que ele seja...
Estava tentando falar sobre cultura de massa, um tema bem interessante e geralmente envolvente entre eles, que logo se identificam com a proposta. Mas todo esforço é vão quando se tem uma sala de 40 alunos, todos mais interessados em seus clichês inquestionados, suas músicas sem qualidade, o seu afeto ao consumismo desnecessário de celulares gratuitos.
Pensei que o motivo daquela conversa poderia ser muito proveitosa pra eles. Mas a regra é não ter regra em se tratando de sala de aula super lotada, pois quase nada dá certo. A não ser as inconveniências.
Quis chorar diante daqueles seres tão sem culpa, e me senti culpada por isso. Pensei em antidepressivos que trouxessem novamente minha alegria de viver. Minha juventude que me foi tirada pelo escárnio de adolescentes perversos.
Alguns podem até mesmo questionar e dizer: "mas você é adulta, eles ainda são crianças e não sabem o que fazem..." A esses tenho a incrível solução de encaminhá-los apenas um dia, ou melhor, apenas uma ou duas aulas seriam suficientes para abrir-lhes os olhos da condição alienante em que vivem nossa adolescência atual. Tamanho desrespeito para com o outro, tamanho desinteresse os assola diante de problemas brutais que ocorrem no mundo.
A escola deveria melhorar sua condição tecnológica? Sem dúvida. Mas não é esse o ponto. Pois estamos tratando de uma questão mais abrangente do que tecnologia na sala de aula como recursos didáticos.  A questão que se coloca é: vivemos num mundo midiático, onde se consome cada vez mais desenfreadamente, onde o que se vende não são apenas produtos materiais, mas ideologias estigmatizadas pela sociedade, padrões de conduta que extrapolam nosso bom senso. Portanto, qual é nosso papel enquanto educadores de pessoas completamente aquém dos problemas centrais que ocorrem no mundo? E mais ainda, como fazê-lo?

Volto a primeira proposta central desse blog, pela redução da quantidade de alunos em sala de aula, portanto a construção de novas escolas. Redução na jornada de trabalho dos professores, que não aguentam trabalhar por longas horas semanais, estando submetidos a esse meio problemático escolar.

Sem esses primeiros passos na educação, uma educação de qualidade será mera utopia, teoria fajuta perambulando no nada, vazio existencial do ser humano.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Roda Viva

Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...