quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Sobre as Ocupações:

Fim de ano. Encontro-me numa lastimável situação de cansaço. Vendo os demais colegas da classe dos professores sentirem o mesmo, assim como os alunos e os demais envolvidos nesse trabalho que é educar.
Em meio a esse cansaço já sempre ligado á essa época de fim de ano, surge uma esperança. Uma esperança que veio do seio de quem é cotidianamente oprimido pelo sistema: os alunos da rede pública de ensino.
Fui visitar a escola que trabalho, e que esta ocupada desde a semana passada. Vi alunos numa organização invejável a qualquer professor exemplar. Alunos que antes eram tidos como alunos “problemas” na verdade são os que mais abraçaram a causa de dar um novo ar à sua escola.
Repaginaram o espaço que finalmente percebem como parte deles mesmos.  Um espaço que não esta apartado da comunidade, mas que recebe diariamente doações e visitas da comunidade.
Eu, sinceramente nunca tinha visto isso acontecer em parte alguma desse planeta. Uma escola que efetivamente é feita pelos e para os alunos.
Depois de ver essa situação sinto novos ares entrarem pelas portas e grades das janelas da escola. A escola que recebe a população em sua grande maioria de negros, da periferia da cidade. Essa mesma escola nos ensina como deve ser uma escola ideal.
Lá eles mesmos estão organizando oficinas, e dizem que nunca em todos os anos que lá estão aprenderam tanto como nessa última semana! Pois estão aprendendo conhecimentos de verdade, e não aquela balela ensinada e ditada obrigatoriamente goela abaixo pela classe dominante para que eles se tornem mão de obra barata.
Os conhecimentos de verdade vão desde aulas de música, capoeira, dança, desenho, sessões de cinema, palestras e até culinária. E sempre se organizam para fazer a comida dos que estão lá trabalhando, e também para manter a limpeza do local que é deles.
Os alunos descobrem o espaço que é deles, e também descobrem que há tantas coisas guardadas que nunca puderam usufruir. Descobrem que ali tem muitos problemas no prédio que nunca foram sanados pelo governo.
Mas acho que o mais interessante de tudo isso é demonstrar qual é a educação que eles querem, ou melhor, que toda sociedade quer. Muitas vezes dizemos que sonhamos com a autonomia de nossos alunos, e quando eles finalmente alcançam esse status, simplesmente nos afastamos por medo ou porque não sabemos lidar muito bem com tamanha autonomia.
Nossos jovens venceram a decisão de um governador autoritário. Fizeram ele rever as suas imposições. Coisa que meses de uma sofrida greve nem sequer vislumbrou.
Independente de qualquer decisão que esses alunos tomem daqui pra frente, até porque o natal se aproxima e muitos vão querer voltar para suas casas. Acho que o mais importante já aconteceu e esta apenas começando a brotar... Essa semente da esperança por uma educação efetivamente democrática, na qual a escola publica seja tão boa e produtiva quanto uma particular, que ela não seja reprodutora da desigualdade social.

A esperança de que um dia possamos deixar os portões das escolas abertos para quem quiser ir e vir, e possam os alunos sentir-se livres para circular e fazer acontecer o que quiserem naquele espaço, porque eles são autônomos, porque eles são inteligentes e sabem muito bem o que querem.

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