Fim
de ano. Encontro-me numa lastimável situação de cansaço. Vendo os demais
colegas da classe dos professores sentirem o mesmo, assim como os alunos e os
demais envolvidos nesse trabalho que é educar.
Em
meio a esse cansaço já sempre ligado á essa época de fim de ano, surge uma
esperança. Uma esperança que veio do seio de quem é cotidianamente oprimido
pelo sistema: os alunos da rede pública de ensino.
Fui
visitar a escola que trabalho, e que esta ocupada desde a semana passada. Vi
alunos numa organização invejável a qualquer professor exemplar. Alunos que
antes eram tidos como alunos “problemas” na verdade são os que mais abraçaram a
causa de dar um novo ar à sua escola.
Repaginaram
o espaço que finalmente percebem como parte deles mesmos. Um espaço que não esta apartado da
comunidade, mas que recebe diariamente doações e visitas da comunidade.
Eu,
sinceramente nunca tinha visto isso acontecer em parte alguma desse planeta.
Uma escola que efetivamente é feita pelos e para os alunos.
Depois
de ver essa situação sinto novos ares entrarem pelas portas e grades das
janelas da escola. A escola que recebe a população em sua grande maioria de
negros, da periferia da cidade. Essa mesma escola nos ensina como deve ser uma
escola ideal.
Lá
eles mesmos estão organizando oficinas, e dizem que nunca em todos os anos que
lá estão aprenderam tanto como nessa última semana! Pois estão aprendendo
conhecimentos de verdade, e não aquela balela ensinada e ditada obrigatoriamente
goela abaixo pela classe dominante para que eles se tornem mão de obra barata.
Os
conhecimentos de verdade vão desde aulas de música, capoeira, dança, desenho,
sessões de cinema, palestras e até culinária. E sempre se organizam para fazer
a comida dos que estão lá trabalhando, e também para manter a limpeza do local
que é deles.
Os
alunos descobrem o espaço que é deles, e também descobrem que há tantas coisas
guardadas que nunca puderam usufruir. Descobrem que ali tem muitos problemas no
prédio que nunca foram sanados pelo governo.
Mas
acho que o mais interessante de tudo isso é demonstrar qual é a educação que
eles querem, ou melhor, que toda sociedade quer. Muitas vezes dizemos que
sonhamos com a autonomia de nossos alunos, e quando eles finalmente alcançam
esse status, simplesmente nos afastamos por medo ou porque não sabemos lidar
muito bem com tamanha autonomia.
Nossos
jovens venceram a decisão de um governador autoritário. Fizeram ele rever as
suas imposições. Coisa que meses de uma sofrida greve nem sequer vislumbrou.
Independente
de qualquer decisão que esses alunos tomem daqui pra frente, até porque o natal
se aproxima e muitos vão querer voltar para suas casas. Acho que o mais
importante já aconteceu e esta apenas começando a brotar... Essa semente da
esperança por uma educação efetivamente democrática, na qual a escola publica
seja tão boa e produtiva quanto uma particular, que ela não seja reprodutora da
desigualdade social.
A
esperança de que um dia possamos deixar os portões das escolas abertos para
quem quiser ir e vir, e possam os alunos sentir-se livres para circular e fazer
acontecer o que quiserem naquele espaço, porque eles são autônomos, porque eles
são inteligentes e sabem muito bem o que querem.
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