terça-feira, 10 de agosto de 2010

Aluno, Estado, Mundo, Eu.

Há algumas horas estive em sala de aula onde fui agredida verbalmente por um aluno. Uma criança de oitava serie, me tirou do sério, tive que tomar fôlego para prosseguir a aula, para prosseguir o dia como se nada tivesse acontecido.
Infelizmente essa é a realidade dos professores da rede publica do Estado de São Paulo, e talvez do país inteiro. E ainda pior, o que mais me choca, é que talvez o período de crise seja tamanha que não somos os responsáveis por isso. Alias quem seria??
Pergunto a mim, aos “profissionais” da educação, onde esta o erro? Como podemos saná-lo? Mas um eco vazio ressoa por entre as entranhas do emaranhado político publico: nada. Nenhuma voz se ouve, nenhum ser vivo questiona, afinal de contas, tudo esta do único jeito possível de se estar.
O fato é que um garoto de 14 anos me dá medo. Como posso sentir isso? Como posso enxergar-me nos olhos dele? Penso que ele é a mais pura manifestação do que conhecemos como inconsciente inconsistente coletivo. E ele sou eu também. Miséria.
Ao me levantar da mesa do professor e chamar-lhe a atenção, já sabia de antemão onde isso tudo iria parar: na sala da direção. Mas a direção encaminha o “problema” a outras instituições, que nada resolvem. E o “problema” é jogado de um lado a outro, como bola de ping pong, ou melhor; batata quentíssima, fervente.
Qual é o problema afinal? Ora, o problema do desrespeito ao próximo, e do medo. Tenho medo dele, os alunos temem a ele também, a direção, as outras instituições, o governo, Jose Serra, Dilma e outros tantos, não querem olhá-lo. Está distante de seus mundos, não podem visualizar esse fato cara a cara, como eu observei hoje.
Quis ser corajosa e o encarei. Seus olhos refletiam os olhos do mundo. Era a dor do mundo, era a náusea do incabível, silêncio que extrapola em meio ao caos. Pude ouvir sua voz execrar-me, punir-me por estar num sistema que ele mesmo não entende.
Como queria dizer-lhe que, no fundo, ele esta certo, que não somos obrigados a adequar-nos ao sistema dilacerante, mas a violência vermelha tomou-lhe os olhos. Estavam fumegantes. Queriam atirar fogo para todos os lados, para afundar no lodo. O lodo já é sua moradia, dia a dia. Sua mãe lhe defende, deve pensar: ao menos uma. Mas ela mal sabe que assim apenas piora a situação do menino mimado.
E a questão prevalece... Qual é o problema de fato? O sistema? A indisciplina? A inversão de valores? A crise atual da sociedade democrática brasileira? A má distribuição de renda do país? Onde esta o cerne do problema? Acho que se pudermos juntos questionar esse entrave político educacional do país, podemos ao menos construir uma base sólida e eqüitativa dos bens públicos. Educação é um bem, quiçá o maior de todos os bens, e esta sendo jogada às tralhas no baú da ignorância e do descaso.
Àqueles interessados em, não apenas problematizar a educação, mas propor um hemisfério que possa atingir com veracidade a questão do ser humano como um ser social, criativo e lúcido.

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