Há algumas horas estive em sala de aula onde fui agredida verbalmente por um aluno. Uma criança de oitava serie, me tirou do sério, tive que tomar fôlego para prosseguir a aula, para prosseguir o dia como se nada tivesse acontecido.
Infelizmente essa é a realidade dos professores da rede publica do Estado de São Paulo, e talvez do país inteiro. E ainda pior, o que mais me choca, é que talvez o período de crise seja tamanha que não somos os responsáveis por isso. Alias quem seria??
Pergunto a mim, aos “profissionais” da educação, onde esta o erro? Como podemos saná-lo? Mas um eco vazio ressoa por entre as entranhas do emaranhado político publico: nada. Nenhuma voz se ouve, nenhum ser vivo questiona, afinal de contas, tudo esta do único jeito possível de se estar.
O fato é que um garoto de 14 anos me dá medo. Como posso sentir isso? Como posso enxergar-me nos olhos dele? Penso que ele é a mais pura manifestação do que conhecemos como inconsciente inconsistente coletivo. E ele sou eu também. Miséria.
Ao me levantar da mesa do professor e chamar-lhe a atenção, já sabia de antemão onde isso tudo iria parar: na sala da direção. Mas a direção encaminha o “problema” a outras instituições, que nada resolvem. E o “problema” é jogado de um lado a outro, como bola de ping pong, ou melhor; batata quentíssima, fervente.
Qual é o problema afinal? Ora, o problema do desrespeito ao próximo, e do medo. Tenho medo dele, os alunos temem a ele também, a direção, as outras instituições, o governo, Jose Serra, Dilma e outros tantos, não querem olhá-lo. Está distante de seus mundos, não podem visualizar esse fato cara a cara, como eu observei hoje.
Quis ser corajosa e o encarei. Seus olhos refletiam os olhos do mundo. Era a dor do mundo, era a náusea do incabível, silêncio que extrapola em meio ao caos. Pude ouvir sua voz execrar-me, punir-me por estar num sistema que ele mesmo não entende.
Como queria dizer-lhe que, no fundo, ele esta certo, que não somos obrigados a adequar-nos ao sistema dilacerante, mas a violência vermelha tomou-lhe os olhos. Estavam fumegantes. Queriam atirar fogo para todos os lados, para afundar no lodo. O lodo já é sua moradia, dia a dia. Sua mãe lhe defende, deve pensar: ao menos uma. Mas ela mal sabe que assim apenas piora a situação do menino mimado.
E a questão prevalece... Qual é o problema de fato? O sistema? A indisciplina? A inversão de valores? A crise atual da sociedade democrática brasileira? A má distribuição de renda do país? Onde esta o cerne do problema? Acho que se pudermos juntos questionar esse entrave político educacional do país, podemos ao menos construir uma base sólida e eqüitativa dos bens públicos. Educação é um bem, quiçá o maior de todos os bens, e esta sendo jogada às tralhas no baú da ignorância e do descaso.
Àqueles interessados em, não apenas problematizar a educação, mas propor um hemisfério que possa atingir com veracidade a questão do ser humano como um ser social, criativo e lúcido.
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